A visão pastoral hoje

02/06/2011 23:53

 

A visão pastoral hoje

Pastor Fabian Serejo

A visão pastoral hoje

 

 Introdução

Para iniciarmos nossas discussões sobre o tema proposto é mister fazer uma breve, porém, consistente, análise da palavra visão. O termo aparece em maior proporção no Antigo Testamento, dada a atividade constante dos profetas videntes, que atuam num contexto bem particular em relação Novo Testamento.

No Novo Testamento há duas palavras usadas para Visão, (__)substantivo, visão, espetáculo, coisa maravilhosa vista, de onde o verbo (__), olho, vejo, contemplo, cuido, apareço. Já (__) quer dizer: vejo, olho; acautelo-me de; discirno; percebo; compreendo; considero; contemplo, examino.

Para termos um exemplo mais claro do termo, usaremos como base a experiência paulina (Atos 16.9) de uma visão que teve de um homem da Macedônia, que lhe pedia ajuda. Neste episódio não se trata de um sonho, mas, segundo Champlin, de uma aparição em que o rosto seria uma forma irreal “no sentido de que nenhuma pessoa ou espírito chegou até à presença de Paulo, mas antes o formato humano que apareceu foi simplesmente uma criação da providência divina. Visão aqui, portanto, é uma aparição maravilhosa de algo irreal que acontece no campo sobrenatural como fruto da intervenção divina.

Este tipo de visão foi sendo cada vez menos comum no NT. No Antigo Testamento os profetas eram tomados em êxtase e levados a lugares espirituais a ponto de ficarem fracos fisicamente por causa dessas visões, como é o caso do profeta Daniel ( Daniel 10. 8 “Fiquei pois eu só a contemplar a grande visão, e não ficou força em mim; desfigurou-se a feição do meu rosto, e não retive força alguma”). Entretanto, um estudo do profetismo leva-nos a concluir que a atividade profética mais comum não foi o êxtase pois, os profetas exerceram um papel fundamental na vida social, política e espiritual do seu povo, como vemos neste texto do profeta Amós (Amós 4.1: “Ouvi esta palavra vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis aos pobres, que esmagai os necessitados, que dizeis aos vossos senhores: Dai cá, e bebamos”).

Como podemos ver, a visão RORAO, que identifica um ministério mais contemplativo e místico, teve um papel fundamental no passado, quando Deus precisou intervir de maneira sobrenatural na história para completar a sua revelação redentora, pois a mentalidade humana era essencialmente mística. Porém, à medida em que o pensamento filosófico se desenvolveu e consequentemente a razão passou a determinar a maneira mais coerente de compreender o mundo, a mentalidade moderna passou a exigir uma visão mais realista e concreta do mundo, a visão descrita pelo vocábulo BLÉPO.

Em outras palavras, a visão pastoral hoje, deve ser relevante para uma mentalidade que entende o mundo não como fruto da intervenção divina mas como simples desenrolar da história.

1. O QUE SE ENTENDE POR UMA VISÃO PASTORAL RELEVANTE PARA O MUNDO MODERNO

1.1 A VISÃO PASTORAL RELEVANTE É AQUELA QUE DEFINE COM CLAREZA ONDE DESEJA CHEGAR.

Algumas perguntas simples podem ajudá-lo a descobrir se sua visão dispõe ou não de um propósito em seu ministério:

a) Suas mensagens estão direcionadas para um propósito maior ou apenas para solucionar problemas corriqueiros, assuntos de última hora, uma programação do próximo Domingo ou a baixa entrada de dízimos do mês?

b) Seus planos levam a algum lugar? Eles fazem parte de um grande objetivo para sua igreja ou são apenas um conjunto de atividades desconexas que na maioria das vezes tapam rachaduras mas não reforçam a estrutura?

c) Você tem idéia do que espera de sua igreja daqui a 2 ou 3 anos?

d) Os membros de sua igreja seriam capazes de declarar qual propósito dela? É perceptível a falta de objetivo em muitos ministérios. Fala-se de crescimento, mas falta uma proposta viável e clara de um futuro para a igreja e de sua missão no mundo.

e) Alguns conselhos:

• Não deixe o “mesmismo” tomar conta do seu ministério;
• Você está chegando no fim do ministério, mas ele ainda não acabou;
• Não se esqueça dos conselhos de seus professores de Seminário;
• Não se conforme com o fato de que os outros não fazem nada melhor;
• Não tenha medo de pedir sugestões e idéias de outros colegas;
• Faça a pergunta que Jesus fez ao seus discípulos: e vocês o que dizem de mim?

1.2 VISÃO PASTORAL RELEVANTE É AQUELA QUE SABE CONSTRUIR SOBRE OS MUROS DO PASSADO.

Os arqueólogos descobriram que várias ruínas antigas como por exemplo os muros de Jerusalém possuem vários extratos de muros antigos que identificam os períodos históricos destes monumentos. Percebe-se, portanto, que os construtores antigos não desprezavam as construções, porém, as preservavam construindo as novas sobre as antigas.

Há uma tendência no ministério de não valorizar o que já foi feito. O pastor recém chegado olha a situação atual da igreja e, na maioria das vezes emite um comentário depreciativo: “faltou visão”, “podia ser feito assim”, “mas porque tão pequeno, ou tão grande?”.

Esse tipo de atitude não demonstra bom senso e tão pouco valorização histórica. Precisamos olhar o passado e extrair dele toda a sua essência histórica, porque um dia o presente também será passado, e o que pensarão daquilo que fizemos? Isaac Newton disse: “Se vi mais longe do que os outros homens, foi porque estava sobre ombros de gigantes”. Precisamos reconhecer que não fazemos nada sozinhos. Não pode haver uma antítese se não houver uma tese, por isso dependemos um dos outros. O próprio Jesus ensinou seus discípulos a valorizar o trabalho de outros: “O ceifeiro recebe desde já a sua recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e, dessarte se alegram tanto o semeador como o ceifeiro. Pois no caso é verdadeiro o ditado: um é o semeador e outro é o ceifeiro. Eu vos enviei para ceifar o que não semeaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.” (Jo 4.26-38)

1.3 A VISÃO PASTORAL RELEVANTE PARA O MUNDO MODERNO É AQUELA QUE NÃO TEME O NOVO

Jesus foi um líder que soube distinguir entre o passado e o presente e sabia claramente o que deveria mudar. Ele não desvalorizou os que o antecederam, mas também foi corajoso para reinterpretar os valores e costumes para a sua época. Ele iniciava suas mudanças da assim: “ouvistes que foi dito aos antigos ... eu, porém, vos digo ...”.

Temos medo do novo porque é mais fácil deixar como estar do que construir. Temos medo de desafios porque tememos a frustração. Uma frase célebre diz: “quem ousa faz e consegue história”. Inovar é preciso, mas para isso precisamos em primeiro lugar de responsabilidade. Antes de demolir o prédio precisamos ter certeza de que não há como restaurá-lo. Em segundo lugar precisamos ter coragem, precisamos ousar . Neste caso poderemos ser apenas a semente, que naturalmente precisa morrer para que nasça a árvore e dela, outros venham degustar os frutos.

1.4 VISÃO PASTORAL RELEVANTE PARA O MUNDO MODERNO É AQUELA QUE SABE CONVIVER COM O QUEM PENSA DIFERENTE

A convivência com alguém que compartilha as mesmas idéias já é difícil, imagine com aqueles que nem sempre concordam com suas idéias? Jesus nos adverte que “E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?” (Mateus 5.47).

O medo de perder uma posição ocupada leva muitos a agiram instintivamente como animais defendendo seu território. Tal atitude leva muitos a perderem a classe, a ética e o bom senso. Reflete sobretudo o medo, a insegurança e fragilidade diante de idéias que são melhores do que as nossas.

Idéias novas não são sinônimo de perseguição ou ameaça quando se é sábio e humilde para ouvir e ponderar. Nossa grandeza não estar em demonstrar que somos os melhores, mas que reconhecemos quando algo pode ser mudado, refletido e melhorado.

2 – QUANDO A VISÃO PASTORAL PERDE SUA RELEVÂNCIA PARA O MUNDO MODERNO:

Ilustração: O Posto de Salvamento

Numa perigosa costa, onde naufrágios são freqüentes, havia, certa vez, um tosco, pequeno posto de salvamento. O prédio não passava de uma cabana, e havia um só barco salva-vidas. Mesmo assim, os membros, poucos e dedicados, mantinham uma vigilância constante sobre o mar e sem pensar em si mesmos saíam dia e noite, procurando incansavelmente pelos perdido. Muitas vidas foram salvas por este maravilhoso pequeno posto, de modo que acabou ficando famoso. Algumas das pessoas que haviam sido salvas além de várias outras residentes nos arredores queriam associar-se ao posto e contribuíam com o seu tempo, dinheiro e esforço par manter o trabalho de salvamento. Novos barcos foram comprados e novas tripulações treinadas o pequeno posto de salvamento cresceu.

Alguns membros do posto de salvamento estavam descontentes com o fato de o prédio ser tão tosco e tão parcamente equipado. Achavam que um lugar mais confortável deveria servir de primeiro refúgio aos náufragos salvos. Assim, substituíram as macas de emergência por camas e puseram uma mobília melhor no prédio que foi aumentada. Agora o posto de salvamento tornou-se um popular lugar de reunião para seus membros deram-lhe uma bela decoração e o mobiliaram com requinte pois o usavam como uma espécie de clube agora, era menor o número de membros ainda interessados em sair ao mar em missões de salvamento. Assim, tripulações de barcos salva-vidas foram contratadas para fazer este trabalho. O motivo predominante na decoração do Clube ainda era o salvamento de vidas, e havia um barco salva-vidas litúrgico na sala em que eram celebradas as cerimônias de admissão ao clube. Por essa época grande navio naufragou ao largo da costa, e a tripulação contratadas trouxeram barcadas de pessoas com frio, molhadas, e semi-afogadas. Elas estavam sujas e doentes e algumas delas eram de pele preta ou amarela. O belo e novo clube estava em caos. Por isso o comitê responsável pela propriedade imediatamente mandou construir um banheiro ao lado de fora do clube, onde as vítimas de naufrágios pudessem ser limpas antes de entrar.

Na reunião seguinte houve uma cisão entre os membros do clube. A maioria dos membros queria suspender as atividades de salvamento por serem desagradáveis e atrapalharem a vida social normal do clube. Alguns membros insistiram em que o salvamento de vidas era o ser propósito primário e chamaram atenção par ao fato de que eles eram chamados postos de salvamento. Mas por fim estes membros foram derrotados na votação. Foi-lhes dito que se queriam salvar as vidas de todos os vários tipos de pessoas que naufragassem naquelas águas, eles poderiam iniciar o seu próprio posto de salvamento, mas abaixo naquela mesma costa. I foi o que fizeram. Com o passar dos anos, o novo posto de salvamento passou pelas mesmas transformações ocorridas no antigo. Acabou tornando-se um clube e mais um posto de salvamento foi fundado. A história continuou a repetisse, de modo que quando se visita aquela costa hoje em dia encontram-se vários clubes exclusivos ao longo da praia. Naufrágios são freqüentes naquelas águas, mas a maioria das pessoas morrem afogadas.”

2.1 QUANDO DEIXA DE ATENDER AS NECESSIDADES REAIS DE SUA COMUNIDADE

“As ovelhas conhecem a voz do pastor e ele as chama pelo nome” (Jo 10.3). O pastor não pode conhecer suas ovelhas de longe; é preciso envolvimento. Ele precisa está entre suas ovelhas e saber o nome de cada uma delas, conhecer suas necessidades e dar o alimento que precisam para suprir suas carências. Por esta razão muitas vezes o auditório perde completamente o interesse pelas mensagens, porque o conteúdo delas está longe de sua realidade. Quando, porém, o pastor é envolvido com seu rebanho, tem a percepção espiritual do que precisar ensinar e pregar.

2.2 QUANDO DEIXA DE EXECER INFULÊNCIA EM SUA COMUNIDADE:

A igreja tem um propósito definido por Jesus em Atos 1.8 “sede minhas testemunhas”. Ser testemunha de Jesus é muito mais do que fazer evangelismo pessoal nos finais de semana, precisamos de testemunhas de Cristo em todos os seguimentos da sociedade nas agremiações, nos conselhos locais, nos sindicatos, na vida política, nas associações e nas atividades que envolvam a comunidade. Esse é um desafio antigo, mas que urge um empenho de todas as igrejas. Precisamos acabar com o medo de envolvimento ou de pensar: “isso não é assunto para igreja”, “isso não dá almas para o Reino”, pois todas as vezes que assim agirmos estaremos escondendo a “lâmpada debaixo da cama”. A igreja deve, portanto, assumir o seu lugar de sal da terra e luz do mundo.

2.3 QUANDO CONSTRUIMOS UM MINISTÉRIO ESTÉRIL

O que queremos dizer por ministério estéril? É aquele que não deixa discípulos. Muitos deixam de ensinar com ciúmes de perder o lugar, mas esse tipo de atitude prejudica a igreja e ao próprio pastor. Jesus nos disse: “basta que o discípulo seja igual ao seu mestre” . Pensar que o auge da aprendizagem é quando o discípulo passa a repetir o que o mestre ensinou é pura ilusão, pois se tornaram apenas cópias que reproduzem o pensamento do pastor, ou seja, sem identidade. O auge do ensino, porém, deve ser capacitar o discípulo para que a partir das informações recebidas seja capaz de refletir e pensar por si mesmo.

2.4 QUANDO NÃO ESTAMOS DISPOSTOS A PAGAR O PREÇO DE SERMOS CORRETOS:

Eis aqui nosso maior inimigo, nossas atitudes. Quando pregamos estamos nos autosentenciando, pois se falharmos naquilo que ensinamos perdemos a autoridade de liderar. Por isso, cada líder ou pastor deve se policiar para não cair naquilo que condena ou exorta.

O pastor Campanhã dar um testemunho muito forte a este respeito em seu livro Segredos da Liderança. O pastor teve um sonho de realizar um congresso de despertamento missionário da juventude. O congresso realizou-se em Brasília no ano de 93 reunindo cerca de 7.000 jovens. Após o congresso pediu a Deus que lhe desse a visão do que deveria fazer a partir daí, foi então que descobriu que Deus queria primeiramente consertar algumas coisas em sua vida e na JUMOC.

Através desta experiência concluímos que nossas vidas podem está impedindo Deus de nos dar a visão. Precisamos fazer, antes de tudo, um conserto geral, ou seja, estar dispostos a pagar o preço de sermos corretos para que Deus possa agir.

2.5 QUANDO O MINISTÉRIO DEIXA DE SER PRIORIDADE

O pastor pode exercer qualquer outra função, todavia, se esta tornar-se prioridade em sua vida ele estará colocando em risco o seu ministério pois não terá tempo para apascentar seu rebanho. A este a Palavra do Senhor diz em Jeremias 23.1 “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor”. E ainda 23.4: “E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor”. Precisamos tomar cuidado para não fazermos do ministério um trampolim. Deus precisa de pastores que tenham seu coração no ministério.

2.6 QUANDO O PASTOR ESQUECE DE SUAS PRIORIDADES

• Sua família em primeiro lugar;
• Cuidar de sua saúde;
• Reciclar seus estudos;
• Valorizar seu descanso e férias;
• Ter um amigo confiável;
• Não desprezar a leitura e aquisição de livros;
• Preparar-se para a aposentadoria.

Conclusão

Falar da visão pastoral hoje é uma tarefa árdua, pois o assunto é abrangente e sugere muitas formas de abordagem, entretanto, esperamos que os pontos aqui refletidos e a linha de pensamento seguido nos ajude a termos ministérios marcantes para nossas vidas, igrejas e para a sociedade onde estamos inseridos.

Pelos menos algo deve está claro em nossas mentes: a igreja é a imagem de nosso ministério. Se ela vai bem, todos te aplaudem, mas se ela vai mal todos baixam a cabeça. Para ter um ministério relevante é necessário uma vida de completa submissão a Deus e inteira dedicação na missão que Deus te entregou.